Será que os inseticidas são substâncias que apenas matam os insetos? É sobre isso que vamos falar um pouco hoje.
Bom, qualquer substância que tenha o sufixo cida (do Latim caedere, “matar, imolar, derrubar”) sempre nos remete a algo danoso, que mata. Apesar de importante este efeito letal aos insetos, ele nem sempre é o que requer mais nossa atenção, principalmente quando estamos falando de inseticidas. Neste caso, este conceito tende a abranger mais respostas do que apenas a morte do inseto, e é sobre isso que vamos conversar hoje.
Logo após a aplicação de um inseticida em determinado campo, o mesmo começa a ser degradado pela ação ambiental (principalmente), diminuindo assim a quantidade de inseticida presente nas plantas. Esta degradação ocorre rapidamente no início quando as doses estão altas, diminuindo a sua velocidade com o tempo. Com isso, em pouco tempo os insetos presentes na lavoura ficarão expostos a doses abaixo da dose letal, e isso se permanece na maior parte do tempo. Este tipo de exposição pode promover uma diversidade de respostas nestes insetos, respostas que dependem dos insetos em questão, das características dos inseticidas e da quantidade destes inseticidas presentes na superfície das folhas. Já se sabe hoje que estes efeitos subletais que os pesticidas podem causar nos organismos tem muita importância, porém é pouco estudado.
As consequências aos insetos expostos a inseticidas, e particularmente exposição subletal, pode levar a diversas consequências aos organismos expostos, inclusive consequências positivas aos mesmo. Quando estes organismos estão expostos a estas doses subletais eles podem sofrer uma “resposta invertida”, ou seja, ser beneficiado por esta exposição. Este fenômeno é conhecido como hormese (saiba mais aqui) e pode ter importantes consequências práticas. Para se ter uma ideia basta imaginar uma população de insetos que, nestas condições, tendem a aumentar sua reprodução significativamente. Como esta exposição ocorre durante boa parte do tempo, isso pode ser catastrófico para a cultura. Determinar este tipo de efeito é um trabalho complicado, porém de extrema importância pois pode ser a explicação para diversos eventos como, por exemplo, surtos e erupções de pragas, alteração de dominância de espécies e interferência em interações entre organismos.
Muitos fenômenos observados atualmente podem estar relacionados a esta exposição. Não é de se espantar, por exemplo, que os surtos de Euchistus heros estejam relacionados a este fenômeno. Por este motivo muitos estudos ainda precisam ser realizados neste sentido, e muito ainda tem que ser detalhado pela ciência. Porém, a percepção equivocada da atividade inseticida e a simplificação dos potenciais efeitos causados por estes compostos podem comprometer o reconhecimento da importância dos seus efeitos subletais e suas consequências.