Ao contrário do prevalecimento de comunicação visual e sonora no ser humano, a comunicação química prevalece dentre muitos outros organismos na natureza. Essa comunicação é de extrema importância para esses seres, já que muitas vezes é através dela que é possível o indivíduo evitar predação, atrair seu parceiro, informar sobre fontes de alimento, avisar sobre possíveis ataques de outros organismos em sua colônia, marcar território etc. Exemplos na natureza desse tipo de comunicação não faltam. Contudo, alguns pesquisadores têm alertado sobre alterações nesse tipo de comunicação e os problemas ambientais que podem advir disso.
Uma possível causa de disruptura ou interferência na comunicação química entre organismos é o uso de poluentes no meio ambiente, não se limitando apenas aos utilizados na agricultura (i.e., agroquímicos) mas, também, os de uso doméstico. Uma vez liberados no ambiente esses compostos não se limitam a afetar apenas organismos terrestres como plantas, artrópodes e mamíferos. Eles também podem afetar organismos aquáticos como zooplanctons, algas, peixes e anfíbios interrompendo a percepção de sinais químicos que possibilitem a sobrevivência destes.
Algo interessante de ser notado é que, geralmente, quando vemos alguma notícia sobre a liberação de poluentes no ambiente, pensamos logo nos efeitos toxicológicos destes compostos, tais como, mortalidade, efeitos mutagênicos e carcinogênicos. Isto é, efeitos que ocorrem internamente no organismo causando a mortalidade dos indivíduos e assim reduzindo a população destes. Um exemplo disso foi o desastre ecológico ocorrido no Rio Doce causado pelo rompimento de uma barragem em Mariana (MG). Na época, toda a imprensa noticiou que devido à contaminação do rio muitos peixes foram mortos, a água estava contaminada e não poderia ser bebida, alimentos advindos do rio ou do delta dele não poderiam ser consumidos, etc. Contudo quase não foi noticiado o efeito que esses poluentes, mesmo em pequenas doses, poderiam causar ao longo do tempo a outros seres vivos que sobreviveram a esse desastre. Um dos problemas desse tipo de contaminação, descontada à mortalidade rápida, é o comprometimento da reprodução do indivíduo, pois a energia armazenada em seu corpo será alocada para viabilizar a sobrevivência. Outro problema, que é muito mais sutil e só mais recentemente tem despertado o interesse dos pesquisadores, é o efeito que esses poluentes terão na comunicação intra e interespecífica, através de seus feromônios e aleloquímicos, entre os indivíduos que persistem nessas áreas poluídas.
Hoje, apenas algumas inferências são feitas sobre o assunto e muito pouco no contexto brasileiro. É sabido que esses poluentes interagem com algumas rotas bioquímicas do organismo desencadeando uma cascata de eventos que pode levar a alteração no comportamento do indivíduo com consequências a sua sobrevivência e reprodução. O importante aqui é alertar que poluentes podem causar não apenas a interrupção de processos internos ao organismo, inclusive relevantes ao seu comportamento, mas também a interrupção de informação externa o que, provavelmente, afetará a comunicação entre organismos diferentes ou não trazendo consequências para populações e comunidades no ambiente afetado que poderá ter sua composição e estrutura alteradas.
Guedes, N. M. P.