Ferro (Fe) é um micronutriente de importância para plantas e herbívoros, sendo que as plantas dispõem de um mecanismo para aumentar a disposição do nutriente para si ao secretar fitosideróforos na rizosfera. Hu et al (2018) investigam a ação de metabólitos secundários, no caso os benzoxazinoides, como uma estratégia para aquisição de Ferro em milho, além de sua participação como pista para forrageamento de Diabrotica virgifera virgifera, praga de raízes que prefere plantas que produzem benzoxazinoides.

Utilizando plantas selvagens e diferentes mutantes produzindo diferentes benzoxazinoides, os pesquisadores encontraram que alguns benzoxazinoides como DIMBOA e DIMBOA-Glc estão associados com a preferência alimentar de D. virgifera virgifera. Os resultados são interessantes também pois essas moléculas podem formar complexos estáveis com Ferro (ex: Fe-DIMBOA) e estão presentes em maior quantidade na rizosfera da raiz de milho, mediando o reconhecimento, aceitação e forrageamento do inseto. Além de tudo isso, o complexo Fe-DIMBOA traz inúmeros benefícios para o inseto, como ser um sinal de fácil reconhecimento de alimento de qualidade, que por sua vez aumenta a performance do inseto e ainda confere proteção contra nematóides entomopatogênicos.

Os resultados encontrados por Hu e colaboradores trazem novas informações sobre a diversidade dos custos e benefícios do caminho dos benzoxazinoides em plantas de milho, pois ao mesmo tempo que ajudam a providenciar ferro para a planta, ele também contribui para a persistência e eficiência do inseto como praga da cultura, tendo efeitos práticos em programas de melhoramento de plantas e no manejo integrado de pragas.

Confira o artigo na íntegra em: http://science.sciencemag.org/content/361/6403/694

A utilização errada de pesticidas vem gerando grandes problemas para a agricultura. Ao utilizar produtos com o mesmo princípio ativo e em grandes quantidades, ocorre um aumento da pressão de seleção. Com isso, indivíduos resistentes aos pesticidas permanecem no ambiente, o que promove o desenvolvimento de resistência por parte de algumas populações de pragas. Porém, sabe-se que as plantas produzem um gigantesco leque de compostos químicos provenientes (principalmente) do metabolismo secundário. Estes compostos são utilizados na proteção das plantas contra organismos herbívoros tais como insetos, mamíferos e microrganismos. É pensando nessa característica de defesa das plantas que pesquisadores buscam novas moléculas para os ramos farmacológicos e agrícola.

Em Fevereiro desse ano, Carlisson Melo e colaboradores publicaram no periódico Crop Protection um estudo sobre o efeito tóxico de óleos essenciais de Lippia gracilis em Dyaphania hyalinata (broca das cucurbitáceas) e dois organismos não-alvos, Apis mellifera (a abelha comum) e Polybia micans (importante vespa predadora).

Plantas de L. gracilis são ocorrência comum na região nordeste do Brasil. Neste trabalho os autores utilizaram como objeto de estudo dois quimiotipos de L. gracilis, ou seja, plantas da mesma espécie que sintetizam compostos químicos diferentes ou em quantidades diferentes. Após a extração dos óleos essenciais foi realizada a identificação dos principais compostos presentes nestes óleos através de cromatografia gasosa. Os autores então adquiriram compostos sintetizados dos principais componentes encontrados nestas análises (timol e carvacrol) para utilizar como tratamento nos experimentos. Além deste compostos, foi testado também com os óleos essenciais extraídos dos dois quimiotipos.

Os resultados encontrados demonstram que os óleos essenciais extraídos de L. gracilis possuem alto efeito tóxico tanto no organismo alvo quanto nos organismos não-alvo. Foi observado também que os compostos isolados tiveram esse mesmo efeito, porém de forma mais lenta, possivelmente devido a um efeito de potencialização dos compostos minoritários presentes na planta. Este efeito das múltiplas moléculas é uma característica de interesse para o manejo de pragas bem como para o manejo de resistência, uma vez que ocorre a ação inseticida de forma mais complexa ataque mais complexo do que compostos puros sintetizados.

Os autores concluem que os resultados demonstram um potencial desses novos compostos como alternativa no controle da broca das cucurbitáceas. Os mesmos podem ser incluídos num programa de rotação de ingredientes ativos com outros produtos para o manejo de resistência do inseto. Além disso, seu rápido efeito no organismo alvo pode ser manejado em situação de campo, procurando evitar o período de forrageamento dos organismos não-alvo.

Confira o artigo na íntegra: http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0261219417303083

Todo pesquisador sabe da importância da estatística para interpretar dados e encontrar os resultados que se busca, mas não são todos que dominam as diversas ferramentas oferecidas. Além do conhecimento, a prática e a criatividade dos profissionais envolvidos em um projeto de pesquisa trazem ideias e geram oportunidades que muitas vezes passam despercebidas.

Em artigo publicado no reputado periódico Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, Chediak e colaboradores trouxeram um ótimo exemplo da união entre métodos estatísticos, no caso dentro do campo da geoestatística (ou estatística espacial), e dados da evolução de resistência de Aedes aegypti em diversas localidades do Brasil.

Onde se encontram problemas, podem surgir soluções. Um grande volume de dados sobre a queda de eficiência do inseticida organofosfato temefos contra A. aegypti no período entre 1999 e 2011 estava disponível, mas era um grande desafio trazer todos esses dados e conseguir modelar o avanço de insetos resistentes em território nacional.

Utilizando de técnicas de geoestatística como krigagem e semivariograma, os autores conseguiram através da grande quantidade de amostras e bioensaios espalhadas através dos anos e do espaço, criar um mapa nacional da evolução de resistência do mosquito vetor ao inseticida mais usado pelo Governo no seu controle. Além de trazer de maneira visual e de fácil entendimento esse avanço, o estudo também é um forte argumento para o enrijecimento de políticas específicas e para a saúde pública.

O estudo é só um exemplo do poder das ferramentas estatísticas, não apenas para entender problemas e achar resultados, mas ir além disso e trazer informações e soluções com aplicabilidade prática.

O artigo pode ser conferido na íntegra no endereço: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0074-02762016000500311&lng=en&nrm=iso

A ciência possui papel fundamental no desenvolvimento de todos os setores da sociedade. Porém, em uma área de grande importância, a ciência ainda peca: a extensão. Comunicar à sociedade em linguagem adequada os avanços obtidos e os resultados de grandes investimentos governamentais e privados são imprescindíveis para a boa compreensão de nosso trabalho.

Pesquisa realizada em 2017 nos Estados Unidos, pela Michigan State University, buscou avaliar a percepção dos consumidores sobre a produção e qualidade dos alimentos. Entre os resultados obtidos, destaca-se o pouco entendimento do público sobre alguns conceitos científicos: 37% dos entrevistados acreditam ser verdadeira a informação de que “alimentos geneticamente modificados possuem genes e não-modificados não possuem gene”. Outro dado interessante diz respeito à confiança dos consumidores em indivíduos ou grupos de pesquisa na área de saúde e segurança de alimentos: enquanto a maioria, com um número de 59%, confia em cientistas acadêmicos, o valor cai para 49% de confiabilidade em cientistas ligados ao governo e 30% em cientistas do setor privado. Nessas mesmas questões, nota-se uma crescente descrença no sentido oposto, onde 30% dos entrevistados não confia em pesquisas do setor privado.

Enquanto as razões para esse tipo de percepção do público são as mais diversas e não cabem em uma discussão breve, o dado mais importante a ser extraído é a necessidade da comunidade científica em melhorar seu serviço de extensão e se aproximar da comunidade, principalmente em nível local e regional.

A pesquisa na íntegra, incluindo outras respostas e dados sobre a metodologia de pesquisa, se encontra no site da Michigan State University: http://www.canr.msu.edu/news/msu-food-literacy-and-engagement-poll.

O uso de variedades de plantas geneticamente modificadas expressando toxinas Bt pode ser uma ferramenta eficiente para o Manejo Integrado de Pragas (MIP). Contudo, o uso inadequado desta tecnologia pode trazer uma outra preocupação, o surgimento de resistência de algumas pragas. Para minimizar este problema, algumas ações devem ser realizadas como a adoção de áreas de refúgio e uso de produtos e rotação de ingredientes ativos em conjunto à tecnologia Bt. Em artigo publicado no último dia 8 de maio na Scientific Reports , o pesquisador Dr Raimundo W. S. Aguiar  e colaboradores discutem os efeitos do óleo essencial de uma planta neotropical (Siparuna guianensis) em duas pragas de grande impacto econômico, Anticarsia gemmatalis e Spodoptera frugiperda.

Neste trabalho os autores estudaram diversos aspectos relacionados a utilização do óleo essencial de S. guianensis em populações de A. gemmatalis e S. frugiperda. Entre os estudos que compuseram este trabalho tem-se a determinação da curva de concentração-mortalidade deste óleo em larvas destas pragas e ação deste óleo em características biológicas, comportamentais e alimentação destes dois insetos. Os resultados encontrados pelos pesquisadores foram muito interessantes e promissores para a implantação deste no MIP.

Os autores observaram que o óleo essencial de S. guianensis além de possuir atividade inseticida contra A. gemmatalis e S. frugiperda (incluindo as cepas resistentes à toxinas Bt Cry1A.105 e Cry2Ab), o mesmo desencadeou uma ação deterrente na oviposição, além de diminuir a viabilidade dos ovos de ambas as pragas. Um ponto interessante do trabalho foi quando os autores estudaram a ação do óleo essencial em culturas celulares. Neste ponto do trabalho pode-se observar que o óleo essencial induz a morte celular de ambas as pragas, efeito não encontrado para células humanas.

Conversamos com um dos autores sobre o trabalho, o Dr. Khalid Haddi (Universidade Federal de Viçosa). Segundo ele, o Brasil tem grande potencial para a descoberta de novas moléculas e novos métodos a serem utilizados no manejo de pragas. Khalid ressaltou que a extensão e posição geográfica do Brasil oferecem uma rica biodiversidade e consequentes oportunidades na descoberta e produção de produtos naturais com potencial para aplicação pela indústria e na agropecuária.

Estudos como esse demonstram o potencial que a biodiversidade brasileira tem a oferecer para a agropecuária e indústria. No caso específico do manejo de resistência de insetos-praga à toxinas Bt, óleos essenciais surgem como uma grande frente de pesquisa para o controle sustentável de pragas dentro do MIP.

Confira o artigo completo em: https://www.nature.com/articles/s41598-018-25721-0

Sobre o Dr. Khalid Haddi: LinkedIn , Researchgate e Currículo Lattes

 

A ponte entre estudos teóricos e práticos na Ecologia se faz através do estudo de teias alimentares, tornando-se, assim, de grande importância. Em ambientes naturais, o estudo de teias alimentares é de enorme dificuldade, dada a complexidade e quantidade de relações existentes entre os organismos. Uma das alternativas para o estudo das teias alimentares e seus efeitos sobre o ecossistema onde estão inseridas é fazê-lo em ambientes manejados, como no caso da agricultura comercial. Em artigo publicado em fevereiro desse ano na respeitada Plos One, os pesquisadores Marcelo Mendes Haro, Luís Cláudio Paterno Silveira e Andrew Wilby buscaram unir a ecologia teórica e a agricultura na prática. Para tal, tentaram fazer uma ligação da diversidade das plantas através de recursos florais (Tagetes erecta L.) em um plantio comercial de alface (Lactuca sativa var. Solaris), as mudanças em robustez e diversidade das teias alimentares, e suas consequências para um manejo sustentável de pragas agrícolas. Mesmo em um ambiente manejado relativamente simples com apenas uma cultura e um recurso floral externo, a diferença no número de espécies, principalmente inimigos naturais generalistas e especialistas, as ligações entre as espécies e a força entre elas foi significativa, aumentando o equilíbrio entre as espécies e a funcionalidade da comunidade. Os autores, portanto, demonstram que o estudo da estrutura e diversidade das teias alimentares em ambientes manejados é uma ferramenta muito útil para entender a importância da diversificação dos agroecossistemas na dinâmica da comunidade de artrópodes. Esse tipo de informação, que pode ser obtida em diversos ambientes agrícolas manejados, proporciona uma visão ecológica do cultivo e norteia importantes decisões de manejo e controle de pragas.

Como este tipo de análise pode ser aplicado dentro da toxicologia agrícola?

Os trabalhos de teia alimentar estudam com detalhes a diversidade e relações entre os organismos de um ecossistema. Talvez esta seja a melhor ferramenta que, associada com outras avaliações, pode ser utilizada para quantificar a ação de uma nova tecnologia sob a comunidade de artrópodes. Com isso conseguimos demonstrar com detalhes não apenas a interferência de um novo produto (inseticida, herbicida, fungicida ou OGM) sob a diversidade, abundância ou qualquer outro índice (que muitas vezes são parâmetros um tanto quanto vagos). Através desta ferramenta conseguimos mensurar a relação entre fitófagos, predadores, parasitóides e detritívoros para, só então, pontuar o real efeito desta nova tecnologia na comunidade de artrópodes do sistema.

 Artigo na íntegra: http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0193045

Para saber mais sobre o autor acesse seu Currículo Lattes ou seu Researchgate.

Hormese é um termo usado para descrever um fenômeno associado a compostos tóxicos que, em baixas doses, mostram efeito estimulatório ou benéfico ao organismo exposto e em altas doses mostram efeito inibitório ou tóxico. Esta inversão de resposta é dita bifásica, ao contrário da resposta monofásica usual (i.e., aumentando-se a dose, aumenta-se o efeito tóxico). Este fenômeno foi anunciado inicialmente já em 1943 por Southam e Ehrlich, no periódico Phytopathology, quando relataram a relação dose-resposta bifásica de extratos de cedro vermelho em diferentes linhagens de fungos e referiram-se ao fenômeno como hormese, que em grego seria ‘para excitar’. A partir daí vários outros trabalhos demonstrando o efeito hormético foram publicados, principalmente na área médica, mostrando que existem evidências de que baixos níveis de esforço físico diminuem o estresse oxidativo, baixos níveis de álcool podem reduzir doenças cardíacas e derrames, e que a exposição ao estresse leve e repetitivo tem efeitos anti-envelhecimento. Um dos pesquisadores de destaque na área é o toxicologista Edward Calabrese, que observou o efeito hormético de muitos compostos químicos em microorganismos, plantas e animais. No entanto houve poucas tentativas de se aproveitar esta resposta adaptativa em outros organismos com um objetivo prático.

Há ampla evidência de que hormese ocorre em insetos agrícolas expostos a baixos níveis de estresse. Grande parte desta investigação concentrou-se em insetos-praga e como a exposição a baixas doses de pesticidas pode aumentar a reprodução e causar problemas de erupção e ressurgimento pragas ou mesmo resistência a inseticidas. Contudo, alguns estudos têm demonstrado que processos biológicos em insetos benéficos também podem ser favorecidos pela exposição a baixos níveis de estresse. Existem evidências mostrando que o estresse hormético pode ser aplicado a modelos biológicos, a fim de aumentar a sua reprodução ou longevidade, aparentemente sem comprometer a aptidão biológica global. Isto sugere que os mesmos princípios podem ser aplicados para aumentar a eficiência de criação massal de inimigos naturais para o controle biológico.

Hormese induzida por inseticidas tem sido relatada em espécies de pragas e inimigos naturais de artrópodes. Pragas como mosca das frutas, mosca doméstica, caruncho do milho, ácaros vermelho e rajado, e inimigos naturais como percevejos predadores (Podisus, Supputius e Geocorys), e bicho-lixeiro (Chrysopa) têm sido relatados na literatura como exibindo hormese induzida por pesticidas. Mesmo assim os estudos feitos com inimigos naturais têm sido realizados em um número bem menor de espécies, inferior aos com pragas agrícolas. Além dos efeitos importantes para o manejo de pragas, a hormese pode exibir ainda efeito positivo em plantas cultivadas já que pode favorecer o rendimento e, consequentemente, o aumento de produção mediante a exposição destas a baixas doses de pesticidas usados no controle de pragas. Contudo, esta possibilidade ainda não foi explorada.

N.M.P. GUEDES

30/01/2018

Espécies invasoras são espécies exóticas, existentes em todos os reinos, que de tão bem sucedidas no novo ambiente em que habitam, passam ao causar impactos econômicos e ambientais. Isto acontece devido as altas taxas de crescimento e reprodução destas espécies no local em que foram introduzidas ou em áreas adjacentes onde houve a sua dispersão.

A Arunda donax, comumente chamada no Brasil de cana-do-reino, é uma espécie de gramínea de aproximadamente 6-8m de altura e extremamente agressiva por se reproduzir e desenvolver rapidamente suprimindo, ameaçando e deslocando a vegetação nativa. Assim, consequentemente a cana-do-reino acaba por alterar a flora e a fauna no ambiente em que foi introduzida. A origem de A. donax não está bem definida na literatura (se a Austrália, Índia, região ao redor do Mediterrâneo), mas de qualquer forma atualmente se dispersou pelo mundo e tem sido introduzida de forma intencional ou não em diferentes locais. Está incluída na lista das 100 espécies invasoras mais agressivas do mundo porque apresenta características excepcionais de adaptação, tais como: crescimento e desenvolvimento rápidos, a partir do seu rizoma, e em diferentes tipos de solos e climas; e alta competitividade por nutrientes, luz e água usando mais água em relação a plantas nativas. Além destas características a cana-do-reino aumenta o risco de incêndio já que é altamente inflamável e pode causar mudanças no fluxo de água em córregos e rios comprometendo a região em que foi introduzida.

Apesar de tudo isso, a A. donax apresenta muitas características desejáveis o que a torna uma planta economicamente atrativa. Ela é considerada uma planta ornamental e serve para diferentes usos como a produção de combustível, fibras e polpas, além de ser utilizada no controle de erosão.  Por essa razão deve ser considerado a relação custo-benefício frente a sua introdução ou não em uma área, pois a sua erradicação é extremamente difícil e dispendiosa envolvendo o controle mecânico. Esta tática de controle tende a ser muito difícil porque o rizoma da planta fica enterrado numa profundidade entre 1-3m e rebrota facilmente requerendo seu controle químico com a aplicação de herbicidas como o glifosato. Existe ainda o controle biológico feito por insetos para auxiliar no manejo da Arunda a longo prazo.

A cana-do-reino atualmente colocou a Nova Zelândia frente a um dilema. Mais ao norte do país houve a invasão pela A. donax e a erradicação da planta está extremamente complexa. A Nova Zelândia é conhecida como um país em que as leis de proteção ao ambiente são levadas extremamente a sério. Contudo, a erradicação da A. donax está causando tanto problema que a agência de proteção ambiental do país relaxou as normas ambientais aprovando a introdução de duas espécies de insetos, originárias do Mediterrâneo, para combater a cana-do-reino. Isto porque esta espécie vegetal está incorrendo em processo destrutivo na região provocando o desalojamento de plantas nativas e a ocorrência de alagamentos.  Decisões como esta não são fáceis de serem tomadas por um país considerado extremamente exigente quando se trata de proteger o meio ambiente. Contudo, para a agência de proteção ambiental do país esse é um risco calculado porque os insetos introduzidos não correm o risco de hibridizar com espécies nativas e nem estabelecer populações no país. Além disto, estes agentes de controle biológico já foram utilizados com sucesso contra a cana-do-reino nos EUA e Ilhas Canárias.

No Brasil foi feito o mapeamento de A. donax no Distrito Federal como uma forma de monitoramento da expansão da espécie, chamando a atenção para a presença da planta em áreas próximas a locais com obras como rodovias, aterros e depósitos de entulhos. Ao que parece a A. donax ainda não causa grandes problemas no Brasil, mas como a cana-do-reino é parente do bambu pertencente à mesma família, Poaceae, vale a pena ficar de olho.

N.M.P. Guedes

06/12/2017

Espécies introduzidas são aquelas que não sofreram processos evolutivos naturais em um determinado local e que, de alguma forma, foram introduzidas em um ambiente distinto do seu local de origem. Tais espécies são frequentemente conhecidas como espécies exóticas e abrangem diversas ordens de insetos (Classe Insecta).

A forma pelos quais os insetos são introduzidos num novo ambiente são diversas. Porém seja de forma legal para auxiliar no controle de pragas ou, muitas vezes, de maneira ilegal para beneficiar terceiros, a vasta maioria deles são introduzidos pelo homem de forma mais intencional do que acidental. O melhor exemplo disto é o uso desses insetos no controle biológico de plantas daninhas e insetos pragas da agricultura como moscas, besouros, mariposas, percevejos e tripes.

Uma forma interessante do uso de espécie introduzida no controle biológico foi a introdução na Colômbia de uma formiga de origem brasileira, a Paratrechina fulva, para controlar cobras venenosas em vez de insetos pragas. Mesmo quando usadas como agentes de controle biológico aplicado, a maioria dessas espécies introduzidas de insetos não sobrevivem, pois falham em se estabelecer como populações num ambiente diferente do seu habitat natural. Entre as espécies introduzidas de parasitóides apenas 30% delas conseguem estabelecer populações para controlar insetos pragas.

O impacto causado por essas espécies é difícil de quantificar pois algumas são benéficas ao ambiente em que são introduzidas. Por isto alguns recomendam que é mais seguro dizer que a maioria das espécies introduzidas não causam maiores impactos já que a maioria delas não causa problemas e poucas conseguem estabelecer populações de insetos. Mesmo assim, algumas causam danos enormes gerando grande impacto ecológico e econômico, ainda mais quando se trata de uma praga exótica invasora como a traça-do-tomateiro Tuta absoluta (assunto a ser relato em outra notícia), que causou vultuosos prejuízos econômicos aos horticultores brasileiros envolvidos principalmente com o plantio de tomate.

Uma resposta a introdução dessas espécies exóticas problemáticas pode ser a erradicação, particularmente para aqueles insetos que não se dispersaram para áreas adjacentes à invadida. Muitos insetos introduzidos têm sido erradicados. Talvez uma das mais expressivas erradicações feitas foi a erradicação química do mosquito da malária de origem africana Anopheles gambiae, que foi conseguida no nordeste brasileiro entre 1939 e 1940. Contudo, tem havido falhas desastrosas de erradicação. Os métodos de controles químicos e biológicos são os mais comumente usados para o manejo das espécies exóticas. Existem sucessos e falhas no uso de ambos métodos. Antigamente o DDT foi muito utilizado na erradicação de insetos introduzidos, contudo devido as suas características nada ecologicamente correta (alta persistência no ambiente, não seletivo e lipofilicidade) ele foi banido e outros inseticidas com características químicas mais favoráveis passaram a ser utilizados, sendo considerados formas eficazes de controle na erradicação de pragas introduzidas. Mesmo assim o uso frequente de inseticidas é problemático pois os insetos podem desenvolver resistência a estes compostos e seu custo pode ser elevado por requerer aplicações frequentes, o que acaba por favorecer ainda mais o desenvolvimento de resistência a inseticidas. Outra alternativa para a erradicação de insetos introduzidos é o uso do controle biológico, principalmente considerando-se que em muitas áreas naturais a aplicação continuada de inseticidas é particularmente indesejável.

N.M.P. Guedes

21/11/2017

Os percevejos de cama (Cimex lectularius) são considerados pragas urbanas por proliferar nas cidades e oferecer risco à saúde da população. De coloração marrom, possuem forma achatada e tamanho similar a um carrapato. Eles não voam e nem pulam, mas se alojam e se escondem facilmente em qualquer lugar da sua casa sendo difícil a sua erradicação. São insetos sugadores e, geralmente, são mais ativos a noite, picando e sugando o sangue do indivíduo enquanto ele está dormindo.

Nem todo mundo reage a picada do percevejo de cama da mesma forma. Normalmente a picada gera sintomas como vermelhidão, inchaço e, o pior de tudo, coceira. Se a coceira for severa, tratamentos com anti-histamínicos podem aliviar os sintomas. Contudo, apesar de não se ter o conhecimento de que o percevejo de cama dissemina doenças, ele tem causado, além da coceira, problemas psicológicos (pânico) e perda de sono nas pessoas picadas. Por esta razão, em algumas cidades, o aumento de infestação pelo percevejo de cama tem despertado a atenção dos órgãos públicos de saúde.

Atualmente ele tem se dispersado e multiplicado imensamente em diversas cidades do mundo. A infestação por percevejos de cama tem ocorrido não apenas em residências, mas também em locais públicos como escolas, lojas, hotéis, etc. Alojar-se em locais públicos tem facilitado a dispersão do Cimex sp. A mídia tem alertado que devido ao aumento do número de viagens, o trânsito de pessoas e bagagens pelo mundo tem aumentado bastante tendo como consequência a maior dispersão do inseto. O percevejo de cama tem trazido também grandes transtornos a hotéis e a companhias aéreas. A notícia mais recente se deu pela denúncia de uma família que durante um vôo pela British Airways, indo de Vancouver para a Inglaterra, foi vitimada por percevejos de cama que estavam alojados na poltrona do avião. O caso é que o problema tem sido tão grande e tão recorrente que sites foram criados para denunciar locais públicos onde o percevejo ataca e essa atitude do consumidor tem causado má reputação e prejuízo a algumas empresas, já que ninguém quer ir a locais contaminados por estes insetos.

Uma outra forma, até bem interessante, que tem facilitado a dispersão do inseto tem sido o comportamento das pessoas quando ocorre a infestação do inseto em seu domicílio. Por medo das consequências, as pessoas não noticiam o fato. Por exemplo, se o seu apartamento está infestado com o percevejo de cama, ninguém vem visitá-lo e muito menos o convida para uma visita justamente com o receio que você traga algum inseto e possa infestar a sua residência. Na realidade, esse tipo de comportamento acaba facilitando a disseminação do inseto, pois a pessoa não alerta os vizinhos sobre o problema permitindo que o percevejo, sem ser detectado, se espalhe. Imagine a ocorrência disso em prédios com apartamentos. Pois é! Esse problema ocorreu em 2010, quando Nova Iorque foi invadida não pelo Godzilla (como brincaram alguns jornais), mais sim pelo percevejo de cama gerando verdadeiros transtornos à população.

Controlar a infestação do percevejo de cama não é fácil e toma tempo, paciência e dinheiro. A biologia do inseto permite o transtorno, pois ele consegue sobreviver até um ano sem se alimentar, se reproduz rapidamente e seus ovos são resistentes a muitos métodos de controle. Além disso, são difíceis de serem encontrados e identificados, devido ao seu hábito críptico (i.e., hábito de ficar escondido) e devido ao seu tamanho diminuto. A melhor maneira de controlar o percevejo de cama é utilizar táticas de controle adotadas pelo manejo integrado de pragas, que utiliza informações sobre o ciclo de vida da praga e a sua interação com as pessoas e o ambiente em que vive. Iniciativas dentro deste contexto permitirão um melhor manejo da praga, utilizando meios mais econômicos e seguros. Porém, apesar de diferentes métodos de controle serem utilizados, o meio mais efetivo no controle do percevejo de cama é através do uso de inseticidas.

Finalizando, esta notícia é mais para servir como um alerta, pois já há notícias de que a incidência do percevejo de cama tem aumentado no Brasil. Isto tem ocorrido principalmente devido a inúmeras viagens feitas ao exterior pelos brasileiros nos últimos anos, ou pelo menos até 2014… Antes de viajar procure obter informação sobre o histórico da companhia aérea e de hotéis a serem utilizados. Cuidado com locais públicos, principalmente lojas de roupas em que há relatos de ocorrência do inseto – grandes lojas em Manhattan (Nova Iorque, EUA) já foram infestadas pelo percevejo de cama. Todo cuidado é pouco quando se trata de prevenir a infestação de um inseto como o percevejo de cama em sua residência. Afinal, ninguém merece ter esse transtorno, menos ainda em período de crise econômica, pois invariavelmente ele incorre em gastos financeiros elevados para lidar com o problema. O melhor é prevenir a amolação.

 

N.M.P. GUEDES

07/11/2017